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quinta-feira, março 23, 2006

Momento poético

Poesieu

(Kiko Moreira)


Eu não me quero verso métrico

medido como Alexandrino

prefiro essa louca arrumagem

essa travessura de menino.

Eu não me quero nítido e

linear, quero-me antes turvo,

água barrenta de enchente,

sem trova com lua crescente,

sem estar lavado em água corrente.

Eu sou livre!

Sou Eu liberdade... Andorinha no ar:

“ mais vale um pássaro voando

do que dois nas mãos”.

Mais quero um verso na lua

que um preso ao chão...

Eu não me quero poesia

sem paixão (digo adeus a

toda essa Razão).

Quero- me sim Oswald de Andrade,

correndo livre sobre o mar.

Na lua o vento no rosto,

no peito a dor de amar.

Quero-me rima nordestina

do coração popular,

ser cancioneiro de estima,

sem prestar vestibular.

Quero seu Eu Poesia,

Poesieu, isso sim!

ser mestre nesta magia

e ser o encanto em você.

Eu não me quero coado

em dicionário,

quero apenas, dessa gente,

todo meu vocabulário.

Poesieu, nada mais!

Isso me basta e sustenta,

tal qual palafita no mar.

Isso sim é que é vida,

sem correntes cultistas,

somente esse meu verso:

Andorinha no ar !

É assim que Eu vivo,

é assim que Eu morro,

não quero choro ou fala

vindo em meu socorro.

Sou livre ! Isto basta !

Meu caminho ?

Eu mesmo percorro.

Poesieu no meu verso,

este é meu senso liberto.

Apenas isso no sangue:

Poesieu e já basta!

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