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quinta-feira, novembro 29, 2007

Mudamos... e ainda somos os mesmos

Já cantava a Elis Regina: "Minha dor é perceber que, apesar de termos feito tudo, tudo o que fizemos, ainda somos os mesmos..."

  • Diziam que os impostos no País eram absurdos, que a carga tributária era um sinal do descaso do governo com os pobres, pois estes é quem mais sofriam com a fome do leão... E a no entanto a carga tributária e os recordes de arrecadação nunca foram tão grandiosos;
  • Diziam que a CPMF era um imposto injusto, anticonstitucional, que taxa a todos sem considerar a renda do contribuinte, diziam que era mais uma forma do governo poder gastar mais e que uma contribuição provisória não podia se perpetuar indefinidamente... Mas estão querendo prorrogá-la mais uma vez;
  • Diziam que o governo gastava demais, contratava demais, que a máquina pública era muito dispendiosa por ser gigantesca e ineficiente... Mas agora defendem mais contratações, mais gastos e nem falam em austeridade em relação aos gastos do governo;
  • Diziam que o lucros dos bancos era fruto de uma especulação injusta e imoral, resultado de conluios escusos entre o governo e os grandes grupos financeiros ou, resultante da falta de mecanismos de controle eficazes e livres de influência externa e interna.... Mas os bancos continuam lucrando cada mais, enquanto leis que poderiam beneficiar a população nas relações bancárias, são adiadas diante que qualquer pressão financeira (vide as tais contas salário, cujo validade foi adiada de janeiro de 2007 para 2012);
  • Diziam que a corrupção era resultado de relações espúrias entre o governo e o mal empresariado e que a honestidade seria algo sagrado no novo governo... Mas nunca se ouviu falar tanto em corrupção e desonestidade quanto agora;
  • Diziam que o governo era fraco, por desconhecer particularidades do sistema e que isso facilitava o uso "da máquina" para facilitar a corrupção... Mas o governante nuca sabe de nada e crê com veemência na inocência de todos, apesar da provas em contrário;
  • Diziam que a democracia é a mola mestra que deveria mover o mundo e que seria ela a nortear todas as ações de governo... Mas apoiamos países que exploram o trabalho infantil e tratamos candidatos a ditadores autoritários como "hermanos";
  • Diziam tanto sobre a humildade... Mas ameaçam arrogantemente quando se vêm contrariados.
Diria o Cazuza: "Não me convidaram pra essa festa pobre, que os homens armaram pra me convencer a pagar sem ver, toda essa droga...." - Renato Russo completaria: "Que País é esse?"

Cerveja



Dizem por aí que a cerveja é prejudicial a saúde, será?! Preocupado com isso, o instituto de pesquisas sócio-deturpativas de choppsservidus, na Noruega, após longas discussões e elucubrações devidamente ambientadas num barzinho da Liberdade, ao som do Araketu e comendo um acarajé bem apimentado, chegou às seguintes conclusões:


  • CERVEJA MATA? Sim. Sobretudo se a pessoa for atingida por uma caixa de cerveja com garrafas cheias. Anos atrás, um rapaz, ao passar pela rua, foi atingido por 1 caixa de cerveja que caiu de um caminhão levando-o a morte instantanea. Além disso, casos de infarto do miocardio em idosos teriam sido associados às propagandas de cervejas com modelos.

  • O USO CONTINUO DO ALCOOL PODE LEVAR AO USO DE DROGAS MAIS PESADAS?Não, o alcool é a mais pesada das drogas: uma garrafa de cerveja pesa cerca de 900 gramas.

  • A CERVEJA CAUSA DEPENDÊNCIA PSICOLÓGICA? Não. 89,7% dos psicólogos e psicanalistas entrevistados preferem whisky.

  • MULHERES GRÁVIDAS PODEM BEBER SEM RISCO? Sim. Está provado que, nas blitz, a polícia nunca pede o teste do bafômetro pras gestantes... . E se elas tiverem que fazer o teste de andar em linha reta, sempre podem atribuir o desequilíbrio ao peso da barriga.

  • CERVEJA PODE DIMINUIR OS REFLEXOS DOS MOTORISTAS? Não. Uma experiência foi feita com mais de 500 motoristas: foi dada 1 caixa de cerveja para cada um beber e, em seguida, foram colocados um por um diante do espelho. Em nenhum dos casos, os reflexos foram alterados.

  • EXISTE ALGUMA RELAÇÃO ENTRE BEBIDA E ENVELHECIMENTO? Sim. A bebida envelhece muito rápido... Para se ter uma idéia, se você deixar uma garrafa ou lata de cerveja aberta ela perderá o seu sabor em aproximadamente quinze minutos.

  • A CERVEJA ATRAPALHA NO RENDIMENTO ESCOLAR? Não, pelo contrário. Alguns donos de faculdade estão aumentando suas rendas com a venda de cerveja nas cantinas e bares na esquina.

  • O QUE FAZ COM QUE A BEBIDA CHEGUE AOS ADOLESCENTES? Inúmeras pesquisas vinham sendo feitas por laboratórios de renome e todas indicam, em primeiríssimo lugar, o garçom.

  • CERVEJA ENGORDA? Não. O que engordam são os salgadinhos, ovos de codorna, coxas de galinha, frituras, etc. Que costumam acompanhar a cerveja.


  • A CERVEJA CAUSA DIMINUIÇÃO DA MEMÓRIA? Não que eu me lembre.


segunda-feira, novembro 26, 2007

Fonte Nova: Tragédia profetizada


Dizem que a história costuma se repetir, no caso da recente tragédia ocorrida no estádio Otávio Mangabeira, popularmente conhecido como "estádio da Fonte nova" - devido ao fato de estar situado bem ao lado da ladeira da fonte, onde realmente existe uma fonte de água natural - a coisa não podia ser mais verdadeira e já profetizada há décadas pelos "mau-agouristas" de plantão. Meu pai estava na "Fonte" em março de 1971, durante o jogo entre Bahia e Grêmio (jogaram também Vitória e Flamengo), dia da reinauguração do estádio (construído em 1951), que havia sido ampliado, quando um dos refletores estourou, criando a maior confusão, já que as pessoas acreditaram que o estádio estava desabando, várias pessoas saíram feridas e três acabaram morrendo na correria do "salve-se quem puder". Pai diz que viu muita gente ser pisoteada e ele mesmo quase o foi, junto com os primos que o acompanhavam e, que graças aos santos e orixás da Bahia, conseguiram sair de lá ilesos.

Naquela época o estádio não desabou, mas no imaginário popular a cena sempre foi visualizada como algo possível e próximo. - Quem já esteve no anel superior num dia de final de campeonato, sabe bem o que eu digo. - A diversão de muita gente sempre foi ver as arquibancadas balançando a cada lance emocionante; estar lá em cima era empolgante e assustador.

Não era de hoje que a Fonte precisava de reformas, seus problemas não apareceram nos últimos meses e nem foram detectados apenas em razão da pretensão à sediar jogos da Copa de 2014 (O estádio nunca teve a mínima condição para isso), eles vêm se acumulando há anos, frutos de uma série de descasos governamentais e das entidades esportivas, que sempre visaram o lucro fácil através da exploração do "vício do povo".

Os dois "únicos" times baianos acumulam recordes de público, mesmo estando nas divisões inferiores do "brasileirão", seus torcedores choram e se desesperam, imploram aos orixás que "fechem o gol" de seus times favoritos e dão um verdadeiro espetáculo de amor e fidelidade nos estádios; nem por isso são agraciados com desempenhos memoráveis de seus times; na maioria das vezes ocorre justamente o contrário: desempenho medíocre e desapaixonado. Parece que só mesmo a fé tem ajudado nas campanhas do campeonato.

Há muito que o torcedor baiano merece mais respeito, um estádio mais moderno e confortável, com melhor acesso e segurança, sem os preços absurdos cobrados por cambistas de "coluio" com dirigentes e administradores. A tragédia atual, na qual morreram 07 pessoas (poderiam ter sido muitas mais), serviu apenas para nos mostrar o quanto o descaso com o povo vigora nos meios políticos, administrativos e esportivos. Agora, os oportunistas falam que avisaram e os responsáveis dizem que não foram avisados; fica-se por isso mesmo: Vidas perdidas, estádio vazio....

Mas não se preocupem, vem mais uma obra faraônica por aí, afinal o show não pode parar e futebol também dá voto. 2014, demolindo um estádio ou construindo outro, teremos nossa copa.

quinta-feira, novembro 22, 2007

Baianidades...


Todo mundo sabe que a Bahia é a terra da alegria, mas não basta nascer aqui pra ser chamado de baiano, que aliás, como bem o disse Gil ou Caetano (não lembro e tô com "priguiça" de procurar), não nasce, estréia. Então, se você é nascido aqui ou tem amigos que o são, verifique abaixo o índice de baianidade, se não se enquadrar, sinto muito, mas você tá mais pra outra coisa, baiano não.


1. Você fica "virado (a) na porra" quando chove no fimde semana;
2. Agüenta comer pelo menos 2 acarajés sem passar mal;
3.Chama seu amigo de "corno", "viado"; sacana; sua amiga de "nigrinha", “piriguete" , "Putena" e eles não se incomodam;
4. Acha normal comer um "cacetinho" ou uma "vara";
5. Acha legal ficar horas na fila do ferry pra passar o feriadão em uma casa com mais 30 pessoas;
6. Já "comeu água" no Chuleta;
7.Vive se perdendo no Pelourinho;
8. Chama Graça de "Gáu', Wagner de "Váu", Gilberto de "Gil";
9. Mata o gerúndio: - Qué qui cê tá FAZENO? Eu tô DURMINO";
11. Fica "rumando" sabonete, alfazema e um monte de tranqueira no mar no dia 02 de fevereiro;
12. Marca um compromisso pra "de hoje a oito";
13. Já chamou carinhosamente alguém de "tio", "esse menino" ou "coisinha";
14. Fala "na moral", em vez de "por favor";
15. Acha compreensivo o diálogo, numa esquina do Curuzu: - Coléde mermo, broder? – É niúma!!! - Vô pro reggae, táligado?... Vô cumê água com os cara!! – Vá nessa, véi! - Falô, maluco";
16. Acha legal quando dizem que você é "miseravão" ou "putão";
17. É "casquinha" o ano todo, mas abre a mão pra comprar o abadá "Chicretão";
18. Insiste em chamar o "Aeroporto Internacional Deputado Luis Eduardo Magalhães" de "Dois de Julho";
19. Já comeu moqueca de miolo, xinxim de bofe, sarapatel, mininico de carneiro, dobradinha, mocotó, buchada, rabada... E gostou!
20. Não vai embora, "se pica", "parte a mil", "se sai";
21. Despede-se com um sonoro "fuiiiiiiiiii";
22. Durante o jogo não diz: "Vamos Bahia!" mas fala: RUMBORA BAÊÊÊÊÊÊÊA, MINHA PÔRRA... SUA MIZERA!!!


Confira:

de 00 a 05 itens - Ih! Você deve ter nascido lá pras bandas do Rio Grande, Tchê!

de 05 a 10 itens - Olhe, meu rei! Você pode até ter uma tia nascida por aqui, mas...

de 10 a 15 itens - Ôxi! tú é baiano de que interiô, mermo?!

de 15 a 20 itens - Ói, mizi fiú, mãe Naninha disse pra tú passá lá no dia da bença, que ela qué jogá os búziu pra tú...

acima de 20 - Porra véio! dêxa de sombra, que a porra tá pegando no Pelô e eu não quero perder as piriguete do Garcia, rumbora sacana!

quarta-feira, novembro 21, 2007

Brasil - maluquices

No meio do caos em que vivemos, com a insegurança rondando diariamente as nossas mentes e transformando figuras fictícias-reais em heróis da guerra urbana (vide o sucesso do Capitão Nascimento), quando deveriam servir para denunciar o desprezo dado ao longo de nossa história à segurança da população, não é de se espantar que surjam inúmeras propostas esdrúxulas e totalmente inócuas travestidas de solução.

Uma dessas proposta é a do Senador Pompeo de Matos (PDT-RS). Uma transloucada tentativa de facilitar o acesso de armas à população; alega o senador que a atual legislação, somente contribui para a ilegalidade do porte e para o descontrole da quantidade de armas existentes no país. Bem, controle nunca houve mesmo, sequer sabemos as diversas rotas de entrada da armas de fogo no Brasil ou mesmo controlar a venda ilegal de armas apreendidas por policiais ou roubados de quartéis. Não temos um patrulhamento efetivo das nossas fronteiras, seja marítima, aérea ou física, pois nossas Forças Armadas estão a deriva dos investimentos. Fruto de uma visão errônea de que somos um País vivendo pacificamente e sem inimigos - Esquecem os traficantes que invadem nossas fronteiras, dos contrabandistas, dos interesses internacionais em nossas riquezas (já disseram que querem nossa Amazônia - e isso não foi considerado ato de intenção hostil a longo prazo???). Esquecem que a defesa pátria não ocorre apenas em tempos de guerra e que as forças armadas devem estar fortalecidas para assegurar a soberania - o senhor Chaves sabe muito bem disso - e proteger os cidadãos.

Voltando à proposta do senador, liberar mais armas legalmente (diminuindo as exigências e permitindo a mais pessoas poderem adquiri-las) não vai causar nenhuma diminuição da violência, antes disso, causará um implemento dessa violência; concordo que o alto custo de legalizar uma arma (somente para efeitos de registro já que o porte civil acabou, salvo algumas exceções) acaba levando muitas pessoas à clandestinidade, baratear esse custo daria condições de melhor controle para o governo, mas não são essas as armas responsáveis pela violências na ruas.

Querem propostas sérias de combate à violência? Então comecem a discutir mais investimentos na preparação e reciclagem dos policiais, combate à corrupção nos diversos setores do governo, criação de mecanismos eficazes de controle da venda de bebida alcoólica, criação de clínicas públicas para tratamento de drogados e alcoólatras, maior fiscalização e punição severa para motoristas bêbados, proibição da venda de bebidas em determinados locais e horários (o que, aliás, já demonstrou ser um fator preponderante na diminuição da violência em algumas cidades onde foi implementada), investimentos sociais na favelas, mudanças no estatuto da criança e do adolescente, diminuição dos privilégios políticos, redução dos recursos possíveis na esfera judiciária, criação de um regime penitenciário mais severo e mais humano (onde o preso fosse tratado com dignidade, mas sob um regime disciplinar austero e sem privilégios individuais - afinal disciplina não "desumaniza" ninguém), que possibilitasse a reeducação do preso (onde ele seria obrigado a estudar e trabalhar - preso não pode ter os mesmos direitos de quem sempre seguiu a lei, claro que ele deve ser tratado com respeito, mas isso não quer dizer que ele deva ser tratado com condescendência).

Se os nossos políticos um dia pararem de olhar o próprio umbigo e começarem a pensar no que é melhor para a população, ouvi-la e se dedicarem a causa pública, aí começaremos a ter o Brasil que todos sonhamos.

sexta-feira, novembro 09, 2007

BOPE ARGENTINO



Quem disse que nossos "hermanos" não possuem uma força policial eficiente e preparada??

Cap. Nascimento e o futebol

REPÓRTER

- Cap. Nascimento, como todo bom carioca o Sr. deve torcer para algum time do Rio, não?

Cap. Nascimento

- Torço, sim. Mas gosto mesmo é de torcer pescoço de traficante e maconheiro safado.

REPÓRTER

- Então, como capitão do BOPE, o Sr. deve torcer para o Flamengo, cujas cores lembram seu uniforme e olhos injetados.

Cap. Nascimento

- Tá de sacanagem comigo, moleque? Tá de sacanagem? Eu lá vou torcer pro time que a maioria dos traficantes torce? É graça, mesmo. Eu lá sentado do lado de traficante no dia seguinte a uma batida no morro.

REPÓRTER

- Desculpe, capitão! Então, pela reação, o Sr. deve torcer para o Vasco.

Cap. Nascimento

- Eu tô armado, cumpadi! Tu tá me zoando? Nr. 05, nós somos PM? Nós somos segundo lugar?

Nr. 05

- Não, capitão! Nós é caveira!

Cap. Nascimento

- PM é que é segundo lugar. Nós é caveira. Primeirão. Vou torcer para vice????

REPÓRTER

- Fluminense?

Cap. Nascimento

- Aqueles maconheiro viado??? Tu já viu aquela camisa toda colorida? Sabia que aquilo é time de playboyzim?

REPÓRTER

- Bom, então só pode ser o Botafogo.

Cap. Nascimento

- O mané! BOPE...Caveira... É tropa de elite!!! Num é de sofredor, não!

REPÓRTER

- Então, qual time é teu?

Cap. Nascimento

- Como é que é, seu viado? Quem meteu em quem? Nr. 03, traz o saco. Esse fudido deve ser maconheiro. Vamos conseguir umas informações.

REPÓRTER

- N-Não, c-capitão... não! Me expressei mal!!! È que o Sr. disse que torcia para um time do Rio. A-Achei que era uma dos grandes. S-Só queria saber qual para concluir a entrevista.

Cap. Nascimento

- Ih, se mijou todo, nr. 05! Tá bom, vou relevar. Torço para o Bangu. Torço para ver tudo quanto é traficante lá em Bangu I, Bangu II, ...


Vi lá no Calango74. Vai lá, tem mais.

quinta-feira, novembro 01, 2007

Droga de Elite

Pesquisa da Fundação Getúlio Vargas, realizada a partir de dados do IBGE, mostra o retrato dos usuários de cocaína, maconha e lança-perfume: homens, jovens e ricos. É o mesmo perfil dos que mais morrem no trânsito

A discussão levantada pelo filme Tropa de elite sobre a colaboração das classes mais abastadas na manutenção da venda de drogas ganhou munição estatística. Pesquisa divulgada ontem pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) aponta que o consumidor de entorpecentes no Brasil é homem, jovem e da classe A. O estudo, feito com base nos dados de 2003 sobre orçamento familiar do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), considera a situação dos que declararam utilizar maconha, cocaína ou lança-perfume. Foram ouvidas no levantamento feito pelo IBGE 180 mil pessoas, das quais 0,06% disseram consumir drogas.

“Sabemos que há pessoas que usam mas não declaram, por razões óbvias, ainda que haja o sigilo nas entrevistas do IBGE. Mas conseguimos chegar a um dado preciso, do ponto de vista das informações, colhidas de um número significativo de pessoas que admitiram usar drogas”, diz o pesquisador da FGV Marcelo Neri, autor do estudo apresentado ontem e intitulado O Estado da Juventude: Drogas, Prisões e Acidentes.

Especialistas na área de violência e segurança pública concordam com os dados. “Há estudos que apontam, mas de um ponto de vista empírico, que os consumidores das classes altas são importantes nesse esquema do tráfico. Agora esse estudo, ainda que subsidiado apenas pelas respostas voluntárias, comprova isso com rigor estatístico”, afirma Robson Sávio, do Centro de Estudos da Criminalidade e Violência da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Para ele, o levantamento não só representa um retrato do consumo de drogas no país como contribui para a elaboração das políticas públicas.

Diante da incidência de jovens — especialmente na faixa dos 20 aos 29 anos — no consumo de drogas no país, ressalta Robson, o poder público deveria incrementar as campanhas educativas. “Não adianta realizar palestras pontuais, é preciso uma política de prevenção mais forte, que tenha engajamento sério da escola”, destaca o especialista. Para se ter uma idéia do problema, que começa cada vez mais precocemente, o índice de usuários declarados que têm entre 10 e 19 anos é de 36%, enquanto essa mesma faixa etária representa 17% da população total do país.

Os números mostram-se mais reveladores, no entanto, quando apontam a posição socioeconômica dos consumidores de drogas. São brancos (85%), de classe A (62%), com oito a 11 anos de estudo (60%) e que ocupam a posição de filho dentro de casa (80%), no lugar de chefes da família ou cônjuge. “Essa variável do papel de filhos, junto com todas as outras, reforça a visão do filme Tropa de elite. Acho, inclusive, que é o mérito da fita mostrar a realidade da droga no varejo e quem a consome”, afirma o pesquisador Marcelo Neri.

Para George Felipe Dantas, coordenador do núcleo de Segurança Pública do Uni-DF, o filme criou um momento político importante para que o tema seja debatido. “Essas estatísticas estão corretas, especialmente quando falamos de maconha e pó. Ao lado das mais recentes drogas sintéticas, são eles os típicos entorpecentes utilizados pela classe média”, diz Dantas, que também é consultor da Secretaria de Segurança Pública, vinculada ao Ministério da Justiça.


Debate diferente

Sávio, da UFMG, comemora o novo debate sobre o tráfico de drogas, saindo do cenário do morro e do traficante como personagem principal, e chegando ao consumidor. “A parte da distribuição e do consumo sempre foi muito pouco discutida. Agora é que esse tema veio à tona”, diz o especialista em segurança pública e violência. Ele teme, porém, que o debate seja distorcido. “Criminalizar, a partir de agora, o usuário, também não resolverá o problema”, diz. “O que precisa ser feito é ampliar e fortalecer as políticas de tratamento, encarando a droga como questão de saúde pública.”

Outro dado revelador, do ponto de vista econômico dos usuários, é o acesso a sistemas de crédito no mercado financeiro. Quarenta e quatro por cento têm cartão de crédito, contra 17% da população em geral. Entre os que possuem cheque especial, o índice é de 35%, sendo que apenas 12% dos brasileiros contam com esse tipo de vantagem. Embora teoricamente mais confortáveis financeiramente, os consumidores de drogas costumam atrasar prestações de aluguel, água, luz e compras divididas. São 11%, contra 7% da população ao todo.

“(O estudo) mostra hábitos interessantes levantados ao longo da pesquisa. Cabe analisar se o costume de atrasar pagamentos tem a ver com a quantia gasta na compra de drogas”, analisa Neri. Segundo ele, o estudo pode ser um bom ponto de partida para analisar o perfil dos consumidores. “Ninguém tem condição de afirmar se os dados refletem toda a população que consome, mesmo aquela que não declara. Talvez só os traficantes tenham essa radiografia”, afirma o pesquisador. “Mas podemos intuir também que o sentimento de impunidade, e a voluntária decisão de se autodeclarar consumidor, seja maior entre os ricos.”

Presidiários

É também o jovem que protagoniza o problema carcerário e a mortalidade no trânsito do país. Um esquema estatístico elaborado pela FGV, de acordo com dados da população penitenciária brasileira, apontou os fatores de risco que podem levar uma pessoa a se tornar presidiária. O perfil mais crítico é o do homem, solteiro, com idade entre 18 e 35 anos, migrante, com seis ou menos anos de estudo e de cor parda ou negra. A variável de risco mais preponderante, porém, é o sexo. Homens têm cinco vezes mais chances de serem presos que mulheres.

No caso do trânsito, é também o homem, e jovem, a maior vítima. Dados de 2005 do Ministério da Saúde mostram que, numa população de 100 mil habitantes, morrem 45,39 homens e oito mulheres. Todos na faixa etária dos 15 aos 19 anos. Dos 20 aos 29, essa proporção passa de 18,32 homens para 2,88 mulheres. A pesquisa ressalta, entretanto, que o número de desastres fatais caiu quase 6% de 1992 a 2004.

Para George Felipe Dantas, coordenador do núcleo de Segurança Pública do Uni-DF, o jovem no olho do furacão é uma questão sociológica. “Na sociedade medieval e também na moderna, o homem está mais exposto à dinâmica social, que envolve criminalidade, drogas, trânsito”, afirma o especialista. “Como explicar o jovem como grupo de risco em quase todos os problemas, inclusive doenças como Aids? Faz parte do perfil do jovem passar por riscos.”

Diferentemente das mortes no trânsito e do consumo de drogas, em que o jovem rico é o protagonista, na questão penitenciária é o pobre a maior vítima. “Não é que os hormônios tenham classe social, só o tipo de manifestação é que muda”, diz Neri. Para Dantas, nada mais típico em países de primeiro mundo que a relação entre condição social e apenamento. Ele destaca, entretanto, que as deficiências no sistema jurídico também colaboram com a situação. “O pobre não tem acesso aos instrumentos de defesa, precisa contar com defensores públicos, quando existem.”

Fonte: Correio Braziliense