(Kiko Moreira)
Quem já teve a
oportunidade de ao documentário “Falcão: meninos do tráfico”,
pôde ver que em determinado momento crianças aparecem brincando de
“polícia e bandido”, portando armas feitas de madeira, de caixas
de papelão e outros objetos mais simples, seria uma cena comum e
inocente não fosse um detalhe: as crianças ali queriam ser os
traficantes, os “donos da boca”, “os matadores de polícia”.
Não haviam ali armas de brinquedo estimulando a violência, ao
contrário, a violência a que estavam submetidos é que estimulava
nas crianças um novo mito, o de que bom mesmo é ser bandido, é ser
matador. O documentário mostra muito bem o fascínio exercido nas
crianças e adolescentes que os traficantes possuem, são donos do
poder quase inalcançáveis, possuindo bens e confortos muito
distantes do que a realidade da favela poderia proporcionar; a imagem
de impunidade e realização superando qualquer medo ou estatística
que diga ser a vida dos jovens envolvidos com o crime muito breve.
Ali, o que influencia
a entrada de crianças e adolescentes no crime, que deslumbra as
meninas, fazendo-as buscar aproximação com bandidos (imagem bem
alimentada em certa novela global em que a personagem – vivida por
uma lindíssima celebridade – dizia a toda hora que não
interessava se o ficante era “do movimento” o que lhe importava
era que ele lhe desse “presentes”.), é a possibilidade do lucro
fácil, da proteção, ainda que substancial, da quase certeza de
impunidade afinal, menores são inimputáveis ainda que cometam
crimes hediondos.
Então, nesse país em
que bandidos agem e se mostram inalcançáveis – mesmo estando
trancafiados em presídio de segurança máxima, de onde comandam o
crime sob as vistas e a proteção do Estado – onde políticos
corruptos se livram de processos com as mais estapafúrdias e
esfarrapadas desculpas e quando processados atém-se a recursos
protelatórios tão enormes que arrastam-se por anos até o
esquecimento; onde o trabalhador, apesar de sustentar o “Sistema”
com pagamento de impostos exorbitantes, não tem acesso ao mais
básicos direitos e, no qual deputados e senadores, etc.
beneficiam-se de leis que lhes dá, sem o devido retorno, acesso a
serviços de reis; num país em que a impunidade é vista como normal
e direitos humanos são confundidos com ausência de disciplina. Vem
uma lei que proíbe a venda de coloridos lançadores de dardo,
pistolas de água e similares como resposta ao crescimento da
violência infanto-juvenil.
Reportagem da revista
Veja em 2012 afirma o seguinte: “Estudos antropológicos
mostraram que, tanto em sociedades tribais quanto em países de
Primeiro Mundo, nas mais variadas culturas, as crianças sempre
enfrentaram e derrotaram oponentes enormes e furiosos com seus
superpoderes em duelos imaginários do bem contra o mal. “As
narrativas são uma espécie de treinamento para lidar com as
vicissitudes da vida”, escreveu o psicólogo americano Jerome
Bruner, da Universidade Harvard, um dos mais notáveis do século XX.
Brincar com armas, afirmam os estudiosos do universo infantil, é uma
forma de as crianças se sentirem fortes e confiantes para enfrentar
os desafios reais e as sucessivas frustrações do longo e penoso
crescimento físico e emocional.” Portanto, repito, em vez de
proibir crianças de brincarem seus jogos, os senhores legisladores
deveriam voltar os olhos para as próprias casas legislativas e
começar a combater a violência pelo fator que mais a influencia e
dissemina: a CORRUPÇÃO.