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quarta-feira, outubro 28, 2015

A estrada da Democracia




O número de casos de corrupção que tem emergido no tempestuoso oceano político de nosso País tem levado cada dia mais, ao descrédito da população naqueles que deveriam representar os nossos anseios de cidadania e de desenvolvimento, pesquisas de diversos institutos têm mostrado que a classe política anda desmoralizada e desacreditada, uma delas (IBOPE, divulgada em 26.10.2015), afirma que os principais nomes a uma possível candidatura a presidência da república estão tecnicamente empatados no quesito rejeição, amargando índices acima de 52 por cento. A percepção de que não existe político honesto parece ganhar cada vez mais força no imaginário popular.

Quando os gregos desenvolveram o conceito de democracia – o governo do povo pelo povo – pretendiam que a participação de todos os cidadãos decidisse o rumo do Estado, dando-lhes voz e voto. Claro, que apesar do belo conceito, somente homens livres e dotados de certos direitos tinham tal privilégio. Ainda assim, a ideia evolui e ganha uma nova roupagem no período renascentista e depois com as revoluções burguesas que marcaram o início da revolução industrial, a democracia representativa estava criada e o voto se tornou o instrumento que deveria tornar a vida social mais aprimorada e participativa.

O voto, no entanto, não começou sendo um direito universal e muitas foram as lutas para que ele enfim se tornasse um direito de todos, um exemplo marcante pode ser encontrado nos movimentos negros dos Estados Unidos que por décadas tentou implantar a igualdade social capaz de, ao menos legalmente, colocar numa mesma balança negros e brancos, homens e mulheres. Muito combate ainda há que ser feito para que essa igualdade seja realmente concreta.

A Democracia não é uma instituição que esteja pronta. Desse modo, ela não é um instrumento perfeito e ainda necessita evoluir e buscar formas de inclusão dos cidadãos. Mas uma coisa é certa, ela é o instrumento mais adequado a realização da promoção da igualdade e da proteção individual e coletiva que somente podem ser alcançadas pela participação da sociedade. Mais do que um dever, estar envolvido nas discussões e na vida política do País é um direito que deve ser exercido com cuidado por cada um de nós.

Somente buscando agir como cidadãos, cumprindo nossos deveres sociais e fiscalizando nossos representantes eleitos, exigindo o cumprimento aos nossos direitos e respeitando o próximo é que podemos pavimentar a estrada que irá nos levar ao desenvolvimento de uma democracia plena em que o bem estar geral da população seja um fim e não um meio para atingir o poder. Não podemos nos eximir da participação nesse processo sob pena de continuarmos a obter resultados ainda piores de desenvolvimento humano e social.

Pra alguns pode parecer cedo discutir eleições, por exemplo, mas é preciso que tal discussão ocorra diariamente em nossas vidas, nas escolas, dentro de casa, na mesa de bar, nas igrejas, etc. Não dá pra continuar elegendo representantes com base no quanto ele nos paga por um voto, ou escolhendo o “menos pior”. É preciso exigir mudanças e mostrar que somos nós que devemos ser representados e que os eleitos nos devem obediência e sujeição, pois para isso foram eleitos. É preciso conhecer a história política de cada um dos possíveis candidatos e seus planos, verificar sua honestidade e sua coerência política, não dá pra confiar num político que pule de um partido para outro – às vezes de ideologias totalmente contrárias – como quem troca de camisa.

A Educação é um caminho nessa luta pela verdadeira Democracia, e ela não depende apenas de vontade política de prefeitos, governadores ou presidentes. Ela depende da vontade individual de cada um em buscar o seu próprio aprimoramento enquanto ser humano, dotado de consciência e membro de uma comunidade. A educação é o instrumento que liberta a mente do homem, tornando-o capaz de gerenciar o seu próprio futuro, de conhecer e exigir os seus direitos, de admitir e respeitar as diferenças individuais sejam elas religiosas, raciais, de gênero ou sexuais.

É a Educação que nos torna aptos a criar uma sociedade mais justa e eficaz na resolução de conflitos, uma sociedade que trate os seus membros como cidadãos de verdade e não números estatísticos. É a Educação que impulsiona a sociedade a se tornar melhor e verdadeiramente democrática. Mas não se engane, não serão os políticos que iniciarão essa transformação, somente você pode decidir o seu futuro, somente você pode escolher seguir a estrada para Democracia, e ela não é uma estrada fácil e não permite atalhos, é preciso ter coragem de se envolver, de se mostrar e de escolher com consciência e depois cobrar resultados. É preciso enfrentar o interesse dos poderosos e mostrar que o poder é nosso e não deles.

É preciso nos politizar e assumir a responsabilidade. Como diz o ditado, merecemos os políticos que temos, pois fomos nós que os escolhemos e somos nós os culpados pela corrupção e pelos desmandos que aí estão. Se os mesmos políticos não nos representam mais, se não podemos confiar neles, se eles acham que mandam e desmandam, vamos mostrar que nós temos a força pra fazer a mudança que nossa sociedade exige. Você pensou que seria fácil, que a decisão não cabia a você? – Sinto em dizer, você pensou errado: ʺDemocracy it’s a hard way!̠ʺ E a solução é você!

Kiko Moreira.

terça-feira, setembro 10, 2013

Cadeia de Salvador ganha Núcleo de Prisão em Flagrante





Iniciativa inédita no Brasil, o Núcleo de Prisão em Flagrante (NPF) foi inaugurado ontem (09/09), em Salvador, dispondo no mesmo local de espaço para juízes, promotores, defensores públicos e funcionários do Tribunal de Justiça da Bahia (TJBA) e do Governo do Estado, para garantir agilidade no julgamento dos presos em flagrante.
A nova unidade possibilita que o preso com auto de prisão em flagrante, lavrado nas delegacias da capital baiana, seguirá para o NPF, onde um juiz de plantão analisará o caso antes de proferir a decisão judicial no prazo máximo de 48 horas – atualmente, os presos aguardam a decisão custodiados nas carceragens das delegacias.

 "Esta inauguração é resultado do entendimento entre todos os poderes, [por meio] do programa Pacto pela Vida, e vai tirar o constrangimento das delegacias, que precisam custodiar presos até a decisão da Justiça", disse o governador Jaques Wagner.

A unidade possui uma sala de triagem e 18 celas individuais para que o preso aguarde a decisão judicial no prazo. Após 48 horas, liberado ou não, ele terá o processo encaminhado a uma das 17 varas criminais de Salvador. Segundo o presidente do Tribunal de Justiça da Bahia, o projeto que prevê o fim da carceragem em delegacias funciona integrado ao Sistema de Automação da Justiça (SAJ) e deve ser ampliado para todo o estado. "Este núcleo é o primeiro projeto piloto feito em Salvador. Com certeza dará certo e será levado ao interior."

Benefícios – O Núcleo de Prisão em Flagrante funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h, ininterruptamente. Entre os benefícios gerados, estão a redução da superpopulação carcerária e do número de presos em delegacias, pois eles serão custodiados no sistema prisional.

Hoje, aproximadamente 850 presos estão em delegacias de Salvador e região metropolitana. "Temos um excedente de 50% dos presos em nossas unidades e a intenção é que haja o esvaziamento das delegacias, para deixar a Polícia Civil fora da custódia de presos no estado", disse o secretário da Segurança Pública.

De 2007 até agora, o sistema prisional baiano passou de seis mil para 9.500 vagas. Mais sete mil estão previstas por meio de ampliação e construção de novas unidades. "Com as obras de ampliação planejadas, vamos mais que dobrar a capacidade, tendo vagas suficientes para os atuais 16 mil presos", informou o secretário da Administração Penitenciária e Ressocialização.

Entre as planejadas, estão os novos presídios de jovens e adultos e o feminino, no Complexo da Mata Escura, e nos municípios de Barreiras, Vitória da Conquista, Brumado e Irecê, além de Teodoro Sampaio, por meio de uma parceria público-privada (PPP). Também está prevista a ampliação da Cadeia Pública de Salvador, Feira de Santana e Itabuna.

(Retirado do Diário Oficial da Bahia, edição de 10.09.2013)

Realmente uma iniciativa inédita e louvável, espero que consiga atender a demanda e realmente retire das delegacias os presos que por lá se amontoam, no entanto, creio que o plantão deveria funcionar durante 24 horas, até porque boa parte das prisões ocorrem à noite e nos fins de semana. Vamos esperar que o projeto piloto dê certo e seja logo ampliado para outras localidades.

É preciso ressaltar que além da superlotação em delegacias e presídios, há uma deficiência gritante de programas de reabilitação e reinserção do preso na sociedade. O País peca de forma grave em relação a isso, de modo que cadeia é sinônimo de depósito de bandido, misturam-se simples ladrões de galinha com assaltantes de banco, traficantes e homicidas; permite-se a formação de hierarquias e agrupamentos por facções criminosas, transformando o presídio numa cópia distorcida do que ocorre cá fora; disciplina e regulamentação das atividades dos presos são coisas inexistentes, o que facilita o desenvolvimento e gerenciamento de atividades criminosas por quem deveria estar pagando por esses mesmos crimes. Em suma, o sistema presidiário do país é ineficiente, ultrapassado e perigoso para a sociedade.

terça-feira, março 01, 2011

Os meninos perdidos


(Por Kiko Moreira)

Os meninos perdidos se rebelam
E assim eles ganham respeito
Quando marcas escondidas se revelam
Uma mancha vermelha ali no peito

Os meninos perdidos se acham
Quando descem do morro pro asfalto
Afrontando os ódios com que os tacham
Vingando-se na prática do assalto

Os meninos perdidos também choram
E revelam a dor que os desespera
Mas descontam da dor onde moram
E dominam na dor sua favela

Os meninos perdidos estão perdidos
Mas logo serão encontrados
Pelo domínio dos escolhidos
Formados no tráfico dos iletrados

Os meninos perdidos não têm infância
Labutam na tormenta da vigília
Tentam, a custo, evitar a flagrância
Do Estado que os humilha

Os meninos perdidos cruzaram a linha
Rumos sem guia e sem norte
Futuro que aos poucos se definha
Buscando senão outra sorte

Os meninos perdidos uivam à lua
Tais lobos querendo-se fortes
Mas aquilo que colhem da rua
É o caminho para suas mortes

terça-feira, março 20, 2007

Polícia...


Olá pessoal, essa era postagem era pra ontem, mas problemas no servidor adiaram um pouquinho...Vamos lá.


Ontem o Jornal Nacional mostrou alguns "especialistas" em segurança (sociológos, psicológos e educadores - nunca profissionais da área - afinal esses não devem entender de nada mesmo ou não teriam se metido nessa confusão...) e, claro surgiram algumas idéias sensacionais para acabar com a violência, tanto policial quanto marginal. Alguma delas:




  1. Três e dois anos de curso para formação do policial que vai trabalhar na rua - Não sei de onde me saiu essa, até onde sei, nenhuma polícia demora tanto para formar um policial. Não é o tempo de curso que levará um bom policial para as ruas e sim a qualidade de sua formação; em média os cursos duram 03 meses para policial civil, que realmente é muito pouco se consideramos que sua atuação será a de colher provas para subsidiar um inquérito e levar o criminoso à prisão, e de 09 meses para o policial militar, que considero um bom tempo. Ocorre que essa formação não segue um padrão em todo País e a qualidade e conhecimento dos intrutores é questionável, sendo escolhido muitas vezes entre os oficiais/delegados das corporações, sem que tenham sido devidamente avaliados para tal função. Falta também uma estrutura sólida para auxiliar a formação dos policiais, que geralmente são formados sem treinamento técnico adequado, por falta de cartuchos para efetuarem aulas de tiro, falta de viaturas específicas para instrução, falta de cenários simulados de situações e até falta de condições satisfatórias de alojamento. Vale lembrar que após formados eles não sofrem qualquer tipo de controle ou avaliação que permita dizer se estão desempenhando bem ou não a sua função.



  2. Viatura adaptada com blindagem, ar condicionado, supermotor, etc - Ei! a viatura é pra policiar e não para ser um tanque de guerra. Claro que existem necessidades especiais, nas quais é preciso um veículo diferenciado, mas assim é demais. Mais uma vez não sei onde esses "especialistas" tiram essas idéias já que nenhum país do mundo tem a totalidade de suas viaturas com essa configuração. Carros reforçados apenas para necessidades especiais...E olhe que o "caveirão" do Rio de Janeiro, que atende a essas exigências é uma das coisas mais criticadas pelos "especialistas". O que é preciso mesmo é aumentar o número de viaturas nas ruas e cuidar que elas sofram manutenção adequada e possam ter o suporte de alguns veículos de repressão mais equipados, lembro porém que muitas vezes o que falta mesmo é gasolina pras viaturas saírem do pátio dos quarteis.



  3. Mira holográfica contra bala perdida - Essa me fez dar gargalhadas até agora, duvido que a Polícia Federal tenha mais de uma dúzia dessas ou que elas sejam usadas em situações além de treinamento; mas a risada foi porque, e sabe bem quem já viveu a situação, quem está num tiroteio de verdade tem tempo pra tudo, menos pra mirar ou ajustar o dispositivo holográfico, ele quer mesmo é salvar a pele e ai, é bala pro lado que está atirando e pronto. Falei tiroteio de verdade pra não confundir com aqueles tiroteios em que só um lado atira....E outro só tem o trabalho de morrer.



  4. Visão noturna - Bem, uma idéia boa pra variar, os bandido já tem. E olhe que não precisava ser pra todas as viaturas, mas os grupos especiais deveriam tê-las sim.



  5. Rádio criptografado - Outra idéia sensata e que é perseguido pelas policias há tempos, evitaria que a frequencia de comunicação pudesse ser copiada e ouvidas pelos bandidos; hoje qualquer comércio de rua vende um aparelhinho do tamando de um rádinho de pilha que "entra" na freqüencia de celulares, rádio-amadores e, claro, os rádios da polícia. R$ 150,00 viu freguês?



  6. Banco de dados unificado - Esse dizem que existe, mas na prática não funcionou até hoje devido as vaidades das chamadas "autoridades" que não conseguem se entender sobre os critérios de acesso.



Como visto, o que falta de verdade é investimento dos governos estaduais e do governo federal, sem soluções mirabolantes ou traquitanas que servem apenas para o marketing. É preciso criar metas de redução da criminalidade e padronizar comportamentos entre as diversas corporações policiais do País, criar uma fiscalização efetiva e mecanismos de controle adequados para evitar abusos e punir aqueles que usam a condição policial para cometerm crimes, é preciso valorizar a figura do policialspan text e punir severamente qualquer atentado contra eles e mudar as leis, tornando mais rápida a punição de criminosos. Mas isso só acontecerá quando o povo se conscientizar que viver intranqüilo por causa da criminalidade e da violência não é uma coisa "normal"




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terça-feira, novembro 28, 2006

Negritude, Consciência e Luta

O último dia 20 de novembro marcou o dia da consciência negra no Brasil; por absoluta falta de tempo não pude falar sobre o assunto, mas não poderia deixar de lembrar a data, mesmo com atraso, afinal dia de consciência é todo dia. O dia 20 de novembro foi escolhido em razão de ser esta a data da morte de Zumbi dos Palmares, líder mais famoso da resistência quilombola no Brasil, cuja revisão histórica revela que não era tão anti-escravagista como se pensava, uma vez que o próprio possuía escravos a seu serviço, numa demonstração mais do que evidente de algo sempre escamoteado nas aulas de história: o fato de que a escravidão não era coisa de brancos contra negros, por simples questão étnica, mas uma questão muito mais profunda e que de certa forma perdura até hoje em nosso país, a superviniência de valores dos mais ricos sobre os mais pobres ou dos poderosos sobre a massa geral.
Fato é que os próprios negros aprisionavam, escravizavam e vendiam outros negros para os brancos, usando como critério apenas o quanto poderiam lucrar, seja através da erradicação de um negro de outra tribo, não necessáriamente inimiga, ou do simples e universal metal. Como se vê, já que brancos também podiam ser escravos, embora isso ocorresso pouco; a questão sempre foi mais social do que racial. Acredito mesmo que o preconceito racial surgiu depois da imposição de poder do mais forte; lembre que também tentaram escravizar, e escravizaram, os índios por muito tempo, deixando apenas por que não os viam como boa fonte de trabalho, uma vez que a rebeldia indígena parecia ser maior, mas isso é assunto pra outra hora.
O objetivo do post é lembrar a data e fazer refletirem aqueles que por aqui passarem, dessa forma deixo vocês com o discurso de um líder negro americano, o reverendo Martin Luther King, assassinado em 04 de abril de 1968 na cidade de Memphis.
EU TENHO UM SONHO

Discurso de Martin Luther King (28/08/1963)

Eu estou contente em unir-me com vocês no dia que entrará para a história como a maior demonstração pela liberdade na história de nossa nação. Cem anos atrás, um grande americano, na qual estamos sob sua simbólica sombra, assinou a Proclamação de Emancipação. Esse importante decreto veio como um grande farol de esperança para milhões de escravos negros que tinham murchado nas chamas da injustiça. Ele veio como uma alvorada para terminar a longa noite de seus cativeiros. Mas cem anos depois, o Negro ainda não é livre. Cem anos depois, a vida do Negro ainda é tristemente inválida pelas algemas da segregação e as cadeias de discriminação.
Cem anos depois, o Negro vive em uma ilha só de pobreza no meio de um vasto oceano de prosperidade material. Cem anos depois, o Negro ainda adoece nos cantos da sociedade americana e se encontram exilados em sua própria terra. Assim, nós viemos aqui hoje para dramatizar sua vergonhosa condição. De certo modo, nós viemos à capital de nossa nação para trocar um cheque. Quando os arquitetos de nossa república escreveram as magníficas palavras da Constituição e a Declaração da Independência, eles estavam assinando uma nota promissória para a qual todo americano seria seu herdeiro. Esta nota era uma promessa que todos os homens, sim, os homens negros, como também os homens brancos, teriam garantido os direitos inalienáveis de vida, liberdade e a busca da felicidade. Hoje é óbvio que aquela América não apresentou esta nota promissória. Em vez de honrar esta obrigação sagrada, a América deu para o povo negro um cheque sem fundo, um cheque que voltou marcado com "fundos insuficientes".
Mas nós nos recusamos a acreditar que o banco da justiça é falível. Nós nos recusamos a acreditar que há capitais insuficientes de oportunidade nesta nação. Assim nós viemos trocar este cheque, um cheque que nos dará o direito de reclamar as riquezas de liberdade e a segurança da justiça.
Nós também viemos para recordar à América dessa cruel urgência. Este não é o momento para descansar no luxo refrescante ou tomar o remédio tranqüilizante do gradualismo.
Agora é o tempo para transformar em realidade as promessas de democracia. Agora é o tempo para subir do vale das trevas da segregação ao caminho iluminado pelo sol da justiça racial.
Agora é o tempo para erguer nossa nação das areias movediças da injustiça racial para a pedra sólida da fraternidade. Agora é o tempo para fazer da justiça uma realidade para todos os filhos de Deus.
Seria fatal para a nação negligenciar a urgência desse momento. Este verão sufocante do legítimo descontentamento dos Negros não passará até termos um renovador outono de liberdade e igualdade. Este ano de 1963 não é um fim, mas um começo. Esses que esperam que o Negro agora estará contente, terão um violento despertar se a nação votar aos negócios de sempre.Mas há algo que eu tenho que dizer ao meu povo que se dirige ao portal que conduz ao palácio da justiça. No processo de conquistar nosso legítimo direito, nós não devemos ser culpados de ações de injustiças. Não vamos satisfazer nossa sede de liberdade bebendo da xícara da amargura e do ódio. Nós sempre temos que conduzir nossa luta num alto nível de dignidade e disciplina. Nós não devemos permitir que nosso criativo protesto se degenere em violência física. Novamente e novamente nós temos que subir às majestosas alturas da reunião da força física com a força de alma. Nossa nova e maravilhosa combatividade mostrou à comunidade negra que não devemos ter uma desconfiança para com todas as pessoas brancas, para muitos de nossos irmãos brancos, como comprovamos pela presença deles aqui hoje, vieram entender que o destino deles é amarrado ao nosso destino. Eles vieram perceber que a liberdade deles é ligada indissoluvelmente a nossa liberdade. Nós não podemos caminhar só.
E como nós caminhamos, nós temos que fazer a promessa que nós sempre marcharemos à frente. Nós não podemos retroceder. Há esses que estão perguntando para os devotos dos direitos civis, "Quando vocês estarão satisfeitos?" Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto o Negro for vítima dos horrores indizíveis da brutalidade policial. Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto nossos corpos, pesados com a fadiga da viagem, não poderem ter hospedagem nos motéis das estradas e os hotéis das cidades. Nós não estaremos satisfeitos enquanto um Negro não puder votar no Mississipi e um Negro em Nova Iorque acreditar que ele não tem motivo para votar. Não, não, nós não estamos satisfeitos e nós não estaremos satisfeitos até que a justiça e a retidão rolem abaixo como águas de uma poderosa correnteza. Eu não esqueci que alguns de você vieram até aqui após grandes testes e sofrimentos. Alguns de você vieram recentemente de celas estreitas das prisões. Alguns de vocês vieram de áreas onde sua busca pela liberdade lhes deixou marcas pelas tempestades das perseguições e pelos ventos de brutalidade policial. Vocês são os veteranos do sofrimento. Continuem trabalhando com a fé que sofrimento imerecido é redentor. Voltem para o Mississippi, voltem para o Alabama, voltem para a Carolina do Sul, voltem para a Geórgia, voltem para Louisiana, voltem para as ruas sujas e guetos de nossas cidades do norte, sabendo que de alguma maneira esta situação pode e será mudada. Não se deixe caiar no vale de desespero. Eu digo a você hoje, meus amigos, que embora nós enfrentemos as dificuldades de hoje e amanhã. Eu ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho americano.
Eu tenho um sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado de sua crença - nós celebraremos estas verdades e elas serão claras para todos, que os homens são criados iguais.
Eu tenho um sonho que um dia nas colinas vermelhas da Geórgia os filhos dos descendentes de escravos e os filhos dos desdentes dos donos de escravos poderão se sentar junto à mesa da fraternidade.
Eu tenho um sonho que um dia, até mesmo no estado de Mississippi, um estado que transpira com o calor da injustiça, que transpira com o calor de opressão, será transformado em um oásis de liberdade e justiça.
Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Eu tenho um sonho hoje!
Eu tenho um sonho que um dia, no Alabama, com seus racistas malignos, com seu governador que tem os lábios gotejando palavras de intervenção e negação; nesse justo dia no Alabama meninos negros e meninas negras poderão unir as mãos com meninos brancos e meninas brancas como irmãs e irmãos. Eu tenho um sonho hoje!
Eu tenho um sonho que um dia todo vale será exaltado, e todas as colinas e montanhas virão abaixo, os lugares ásperos serão aplainados e os lugares tortuosos serão endireitados e a glória do Senhor será revelada e toda a carne estará junta.
Esta é nossa esperança. Esta é a fé com que regressarei para o Sul. Com esta fé nós poderemos cortar da montanha do desespero uma pedra de esperança. Com esta fé nós poderemos transformar as discórdias estridentes de nossa nação em uma bela sinfonia de fraternidade. Com esta fé nós poderemos trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, para ir encarcerar juntos, defender liberdade juntos, e quem sabe nós seremos um dia livre. Este será o dia, este será o dia quando todas as crianças de Deus poderão cantar com um novo significado. "Meu país, doce terra de liberdade, eu te canto. Terra onde meus pais morreram, terra do orgulho dos peregrinos, de qualquer lado da montanha, ouço o sino da liberdade!" E se a América é uma grande nação, isto tem que se tornar verdadeiro.
E assim ouvirei o sino da liberdade no extraordinário topo da montanha de New Hampshire. Ouvirei o sino da liberdade nas poderosas montanhas poderosas de Nova York. Ouvirei o sino da liberdade nos engrandecidos Alleghenies da Pennsylvania. Ouvirei o sino da liberdade nas montanhas cobertas de neve Rockies do Colorado. Ouvirei o sino da liberdade nas ladeiras curvas da Califórnia.
Mas não é só isso. Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Pedra da Geórgia.
Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Vigilância do Tennessee.
Ouvirei o sino da liberdade em todas as colinas do Mississipi.
Em todas as montanhas, ouviu o sino da liberdade.
E quando isto acontecer, quando nós permitimos o sino da liberdade soar, quando nós deixarmos ele soar em toda moradia e todo vilarejo, em todo estado e em toda cidade, nós poderemos acelerar aquele dia quando todas as crianças de Deus, homens pretos e homens brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão unir mãos e cantar nas palavras do velho espiritual negro:
"Livre afinal, livre afinal. Agradeço ao Deus todo-poderoso, nós somos livres afinal”.