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sexta-feira, setembro 27, 2013

Armas de brinquedo e violência (parte 2)

(Kiko Moreira)

Quem já teve a oportunidade de ao documentário “Falcão: meninos do tráfico”, pôde ver que em determinado momento crianças aparecem brincando de “polícia e bandido”, portando armas feitas de madeira, de caixas de papelão e outros objetos mais simples, seria uma cena comum e inocente não fosse um detalhe: as crianças ali queriam ser os traficantes, os “donos da boca”, “os matadores de polícia”. Não haviam ali armas de brinquedo estimulando a violência, ao contrário, a violência a que estavam submetidos é que estimulava nas crianças um novo mito, o de que bom mesmo é ser bandido, é ser matador. O documentário mostra muito bem o fascínio exercido nas crianças e adolescentes que os traficantes possuem, são donos do poder quase inalcançáveis, possuindo bens e confortos muito distantes do que a realidade da favela poderia proporcionar; a imagem de impunidade e realização superando qualquer medo ou estatística que diga ser a vida dos jovens envolvidos com o crime muito breve.

Ali, o que influencia a entrada de crianças e adolescentes no crime, que deslumbra as meninas, fazendo-as buscar aproximação com bandidos (imagem bem alimentada em certa novela global em que a personagem – vivida por uma lindíssima celebridade – dizia a toda hora que não interessava se o ficante era “do movimento” o que lhe importava era que ele lhe desse “presentes”.), é a possibilidade do lucro fácil, da proteção, ainda que substancial, da quase certeza de impunidade afinal, menores são inimputáveis ainda que cometam crimes hediondos.


Então, nesse país em que bandidos agem e se mostram inalcançáveis – mesmo estando trancafiados em presídio de segurança máxima, de onde comandam o crime sob as vistas e a proteção do Estado – onde políticos corruptos se livram de processos com as mais estapafúrdias e esfarrapadas desculpas e quando processados atém-se a recursos protelatórios tão enormes que arrastam-se por anos até o esquecimento; onde o trabalhador, apesar de sustentar o “Sistema” com pagamento de impostos exorbitantes, não tem acesso ao mais básicos direitos e, no qual deputados e senadores, etc. beneficiam-se de leis que lhes dá, sem o devido retorno, acesso a serviços de reis; num país em que a impunidade é vista como normal e direitos humanos são confundidos com ausência de disciplina. Vem uma lei que proíbe a venda de coloridos lançadores de dardo, pistolas de água e similares como resposta ao crescimento da violência infanto-juvenil.

Reportagem da revista Veja em 2012 afirma o seguinte: “Estudos antropológicos mostraram que, tanto em sociedades tribais quanto em países de Primeiro Mundo, nas mais variadas culturas, as crianças sempre enfrentaram e derrotaram oponentes enormes e furiosos com seus superpoderes em duelos imaginários do bem contra o mal. “As narrativas são uma espécie de treinamento para lidar com as vicissitudes da vida”, escreveu o psicólogo americano Jerome Bruner, da Universidade Harvard, um dos mais notáveis do século XX. Brincar com armas, afirmam os estudiosos do universo infantil, é uma forma de as crianças se sentirem fortes e confiantes para enfrentar os desafios reais e as sucessivas frustrações do longo e penoso crescimento físico e emocional.” Portanto, repito, em vez de proibir crianças de brincarem seus jogos, os senhores legisladores deveriam voltar os olhos para as próprias casas legislativas e começar a combater a violência pelo fator que mais a influencia e dissemina: a CORRUPÇÃO.


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