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terça-feira, julho 29, 2014

Um belo nó no pensamento


Costumamos achar que sabemos tudo sobre nós mesmos, nossa maneira de agir, nossos valores, nossas escolhas e muitas vezes chegamos a nos orgulhar de não nos deixarmos influenciar por fatores externos aquilo que consideramos ser a nossa visão de mundo. Em Subliminar, Como a mente inconsciente influencia nossas vidas (Jorge Zahar, 2013, 304p), Leonard Mlodinow vem nos mostrar que as coisas não são bem assim e que nosso inconsciente é bem mais poderoso do que podemos supor em nossas escolhas e atitudes para com o mundo em que vivemos. Não mais aquele inconsciente teórico e repressor explanado por Freud, mas um inconsciente fruto da evolução do cérebro humano, uma ferramenta perfeitamente construída que nos possibilitou sobreviver mesmo com todas as chances negativas num mundo dominado por feras e acidentes naturais devastadores.

O novo inconsciente fruto de muita pesquisa científica e tecnológica que permitiu desvendar mecanismos cerebrais anteriormente só imaginados de forma teórica e que provam a enorme capacidade adaptativa do ser humano. Não apenas somos uma máquina extraordinária, mas também uma máquina em evolução constante e ainda cheia de surpresas a serem desvendadas.

Mlodinow (que é físico e colaborador de uma das mentes mais privilegiadas do mundo, Stephen Hawking, além de ter sido consultor em algumas séries televisivas de sucesso como Jornada nas estrelas e MacGyver), vai desvendando pequenos e valiosos segredos descobertos nas últimas décadas de uma forma divertida e fluente, com uma correção científica precisa e nem um pouco enfadonha, que nos desperta um agradável prazer em prosseguir a leitura e ir testando aquilo que conhecemos sobre nossa forma de pensar e se relacionar com o mundo a nossa volta.

É um livro para ser lido com calma, aproveitando as informações explanadas nos muitos experimentos descritos e que vão formando um incrível panorama do funcionamento de nossa mente, ali cada informação é importante e cada descrição acrescenta algo em que se pensar nesse curioso e fantástico desafio de entender a nós próprios.
 
Edição: 1
Editora: Jorge Zahar
ISBN: 9788537809594
Ano: 2013
Páginas: 304

quinta-feira, julho 24, 2014

Paz. Você concorda com isso?

Imagem via Pixabay

Sempre fui a favor da liberdade de expressão, contra toda forma de censura, sempre acreditei que as pessoas têm o direito de ser e de fazer o que bem entendem, mas também sempre acreditei que, a menos que essa pessoa viva isolada num planeta deserto, tem que haver regras pois, quando existem duas pessoas, existe um relacionamento e toda ação gerará uma reação que afetará o outro, assim as regras servem para limitar o poder individual de ser e de fazer, buscando um equilíbrio entre o meu querer e o seu. A liberdade não pode ser confundida com o caos, ou o mundo vive sob a égide de normas ou a sociedade se extinguirá como brasa atirada no leito de um rio. Respeitar o querer ser de cada um, infelizmente não é algo natural como gostariam alguns “intelectuais”, mesmo a educação não impregna no homem essa qualidade, somos egoístas por natureza, não por que somos maus ou por que herdamos os pecados de nossos pais, somos simplesmente muito apegados a nós mesmos, Freud explica isso muito bem com o conceito de EGO, ID e SUPEREGO, sem regras que permitam o convívio social, nem sequer teríamos saído das cavernas para ganhar o espaço. Por isso quando vejo o vandalismo gritante de alguns radicais, em especial os autodenominados “black blocs”, que não possuem nenhum objetivo além do vandalismo em si, a baderna como forma de protesto vazia, lembrando atitudes e métodos nazifascistas (a exemplo dos empregados pela juventude hitlerista ou os camisas negras italianos), porém carentes como já afirmei, de uma ideologia verdadeira, querem simplesmente anarquizar, ser contra tudo e contra todos, afirmam protestar contra os governos, lutando por democracia, mas como, se para fazer isso desafiam a própria democracia?
A alegação mais recorrente é que “como o Estado usa de violência institucionalizada contra a população…”, vamos então usar da mesma violência contra o Estado. Esquecem de uma coisa, o Estado somos todos nós; queiram ou não admitir, quem mais sofre com tais ações é a sociedade pela qual dizem lutar. Pude acompanhar alguns protestos, principalmente bloqueios de estradas, o que vi nessas ocasiões foram pessoas que nada tem a ver com a solução imediata de qualquer problema, pessoas que tentavam se deslocar para casa após um dia de trabalho, ou indo a uma consulta médica, vi crianças de colo agitadas e famintas e até mesmo um paciente que morreu por não conseguir transpor um desses bloqueios, mesmo estando numa ambulância, vi inclusive o absurdo de alguém que disse em relação ao caso “não se pode fazer uma omelete sem quebrar ovos”. Fato é que os tais radicais continuam angariando a simpatia de um grupo de intelectuais (?), ditos radicais, cujo discurso parece evocar quase sempre uma convocação as armas, mesmo afirmando clamar por paz.

Imagem via Correio Braziliense
Como temos visto nos últimos dias, muitos dos protestos, ou melhor, da violência ocorrida nestes, foi fruto de uma bem pensada estratégia de amedrontamento e formação de caos, uma tentativa de desmoralizar as forças institucionalizadas, cujos objetivos ainda são nebulosos, mas que devem aparecer com o caminhar das investigações policiais. Alguns dos líderes já foram presos e outros tentam politizar a violência argumentando sofrer perseguição “do sistema”. Muita coisa ainda deverá vir a descoberto, principalmente com o término da Copa e a aproximação do pleito eleitoral (quem financia esses grupos, quais os objetivos e quem são os beneficiados). Convêm portanto, ficar atento as diversas fontes de informação hoje disponíveis e tentar observar o que realmente ocorre por trás da notícia estampada nos noticiários.
Eu creio na Paz, essa com P maiúsculo, que respeita o direito dos outros, que sabe que certas lutas são inevitáveis, mas que a violência não é caminho para absolutamente nada, na Paz que dá a outra face, a face da denúncia, da educação, da não agressão gratuita, porque infelizmente as vezes é preciso bater sim. Creio na Paz que expõe verdades e procura não repetir erros, na Paz que busca a verdadeira Democracia, que faz mudanças com a força de um voto, na Paz que se apoia na solidariedade e justiça. Mas para isso é preciso que estejamos dispostos a fazer a maior de todas as revoluções: Mudarmos a nós mesmos.

sexta-feira, julho 18, 2014

Morre João Ubaldo Ribeiro


O escritor baiano (nascido na ilha de Itaparica),  e autor de obras como "O sorriso do lagarto", "A casa dos Budas ditosos" e "Viva o povo brasileiro" morreu na madrugada de hoje (18.07.14), aos 73 anos. Ubaldo teve uma embolia pulmonar em sua casa no bairro do Leblon, no Rio de Janeiro.
Um dos mais importantes escritores baianos contemporâneos, frequentemente citado entre os melhores romancistas brasileiros, era ganhador do prêmio Camões de Literatura, o mais importante da língua portuguesa e ocupava a cadeira nº 37 da Academia Brasileira de Letras.

O Sorriso do Lagarto foi adaptado para TV numa minissérie da Globo

Sinopse do livro: Numa ilhota esquecida do litoral baiano, um biólogo fracassado vai gastando sua vida como dono de peixaria numa pacata comunidade de pescadores. Mas sua rotina sofre mudanças bruscas quando por lá chegam um grande político da capital e sua fogosa mulher.

Sinopse - A Casa dos Budas Ditosos - Coleção Plenos Pecados: Luxúria - João Ubaldo Ribeiro

Ao receber, segundo afirma, um pacote com a transcrição datilografada de várias fitas, gravadas por uma misteriosa mulher, o escritor João Ubaldo Ribeiro não podia imaginar o que o esperava.

E o inocente leitor, que sequer pode suspeitar o que o aguarda em cada uma das páginas deste livro. Nelas se conta uma vida. E a suposta autora teria enviado seu testemunho para que fosse utilizado para o volume sobre a luxúria da Coleção Plenos Pecados.

O escritor aceitou o oferecimento e o resultado final está agora diante de você. Que deve preparar-se para um relato pouco comum, às vezes chocante, às vezes irônico, sempre instigante. Na verdade, dificilmente a ficção poderia alcançar os limites do que a devassa senhora viveu e narra em detalhes riquíssimos.

Se o leitor tem alguma dúvida, ela logo se dissipará, neste fascinante mergulho na vida espantosa de uma mulher sem dúvida excepcional, cuja narrativa alcança as dimensões de um retrato sociológico de toda uma cultura e uma geração, envolvendo um dos pecados mais indomáveis, e capitais. A luxúria.

Sinopse - Viva o Povo Brasileiro - João Ubaldo Ribeiro

O livro se volta às origens do Recôncavo Baiano para recriar quase quatro séculos da história do país por meio da saga de múltiplos personagens. Viva o povo brasileiro se desenvolve em grande parte no século XIX, mas também viaja a 1647 e avança até 1977. Nele, realidade e ficção se misturam para criar um épico brasileiro com passagens heróicas e cômicas, tendo como pano de fundo momentos decisivos para a história do país, como a Revolta de Canudos e a Guerra do Paraguai.

Sinopses via SKOOB. Junte a nós, também.

domingo, julho 13, 2014

Dias perfeitos - livro


Foi uma grata surpresa chegar em casa e encontrar "Dias Perfeitos" do Raphael Montes embrulhado numa caixa para mim, Não o havia comprado, somente depois lembrei de ter me inscrito no sorteio da cortesia no Skoob. A segunda surpresa foi começar a ler o livro e não conseguir terminá-lo até o fim; simplesmente devorei o livro em poucas horas,sem parar para absolutamente nada.

A narrativa de um jovem e introspectivo estudante de medicina (Téo),promete desde o início quando começamos a perceber quem e o quê ele é, e olhe que ele está descrevendo uma paixão (a história é mostrada do ponto de vista de Téo), por uma mulher. A trama de verdade começa quando Téo acompanha a mãe (uma senhora paraplégica) a uma festa para a qual não quer ir e, lá tentando se isolar é confrontado por Clarice, uma jovem que é seu oposto, emocional e extrovertida. O breve encontro gera um selinho dado por Clarice e desencadeia uma série de eventos na mente e na vida de Téo, que passa a seguir Clarice e que uma vez apaixonado fará de tudo para que ela lhe corresponda, o sequestro em seguida é apenas o início da confusão e da obsessão que tomam conta de Téo e aos poucos vão revelando tudo de que ele é capaz em nome desse "amor".
A narrativa de Raphael é ágil e eficiente, os momentos de tensão surgem de forma natural e a subtramas vão se resolvendo de uma maneira fluída e factível. Os argumentos e a lógica do personagem chegam a encantar e nos faz refletir até onde iríamos na busca de nossos objetivos se fosse possível fazer tudo o que nos vem à cabeça e como justificamos isso? O final é um diferente do que se poderia esperar e isso com certeza irá chocar alguns ou fazê-los gostar ainda mais do romance e do protagonista Téo. O livro vale muito a pena e depois de ler "Dias Perfeitos" fiquei muito curioso pra ler o romance de estreia de Raphael "Suicidas". 

Edição: 1
Editora: Companhia das Letras
ISBN: 9788535924015
Ano: 2014
Páginas: 280

Uma lição da Copa

Uma das coisas que mais chamou a atenção na primeira fase da Copa foi a atitude dos torcedores japoneses, que após os jogos de sua seleção efetuaram a limpeza das arquibancadas, comportamento normal e cotidiano entre eles, mas que despertou curiosidade entre os brasileiros, num exemplo que bem poderia ser seguido por aqui. A pergunta não formulada nos programas de TV é a seguinte: Por que eles fazem isso? – E a resposta mais objetiva e simples possível é: Porque assim foram educados.


Lembremos que o Japão é formado por um conjunto de ilhas, com uma população de mais de 127 milhões de pessoas aglomeradas em pouco mais de 377 mil Km² (o Brasil possui pouco mais de 8,5 milhões de Km²), então viver em harmonia com o próximo é essencial para conseguir manter um determinado padrão de civilidade (o Japão tem o 10º melhor índice de desenvolvimento humano), de modo que todos procuram realizar a “sua parte”, cuidando de seu espaço e dos espaços comuns. Esse nível de conscientização só é alcançado por um povo que desenvolveu uma forte identidade e um senso educacional bastante apurado. Se novamente nos lembrarmos que há apenas 69 anos o Japão saiu derrotado da Segunda Grande Guerra (1939-1945), e que permaneceu ocupado pelos Estados Unidos até 1952, poderemos quantificar o tamanho da evolução japonesa que hoje ocupa a posição de 3ª maior economia do mundo.

Atribuir esse crescimento apenas a educação é minimizar o tamanho do esforço japonês pós-guerra e da ajuda estrangeira (os EUA investiram bastante por lá na tentativa de evitar o avanço comunista), porém a educação assumiu um papel de fundamental importância nesse desenvolvimento, pois a presença de boas escolas técnicas e de nível superior possibilitou a formação de profissionais qualificados a ajudar o país.

No Japão a importância da educação é muito antiga, os Samurais já contavam com cursos específicos e a população em geral freqüentava escolas mistas onde podiam aprender a escrever, ler e contar; de modo que já por volta de 1868 cerca de 40% dos japoneses eram alfabetizados. Vale lembrar que a escola é pública e que professores realizam cursos obrigatórios anualmente, além de receberem incentivo para se aprimorarem e serem acompanhamento durante toda a vida docente. Assim é garantida que a qualidade educacional seja a mesma desde a pré-escola até o nível superior.

Outro fator de importância que pode ser sugerido é a importância da leitura diária, enquanto países mais desenvolvidos possuem média semanal de leitura de 12 horas, nós brasileiros lemos em média 4 horas por semana. O Japão possui as maiores tiragens de jornal do mundo e os japoneses lêem cerca de 12 livros por ano, enquanto no Brasil a média mal chega a 4 livros. Vale lembrar que o hábito de ler ajuda no desenvolvimento do raciocínio crítico, na habilidade de escrever e falar e principalmente na melhor compreensão do mundo ao nosso redor.

O Brasil vem melhorando significativamente seus investimentos em educação, no entanto, não basta criar programas que facilitem a entrada dos jovens no ensino superior, é preciso criar estratégias que também melhorem a leitura desses jovens – O resultado do INAF (Índice Nacional de Alfabetismo Funcional), promovido pelo Instituto Paulo Montenegro, mostra que mesmo entre pessoas com nível superior 38 % não podem ser consideradas plenamente alfabetizadas – que melhorem a nossa educação de base e transformem a qualificação e desenvolvimento da carreira de professor, com acompanhamento técnico, planos de careira melhores condições de trabalho e salários dignos.

Quem sabe assim na próxima Copa possamos também ser destaque nas notícias esportivas como exemplo de educação, consciência e civilidade. A boa notícia é que não precisamos esperar pelas tais políticas públicas, podemos hoje mesmo começar a mudança: Pegue um livro pra ler; vá à escola de seus filhos; mantenha as ruas de sua cidade limpas; evite abusar de som alto; respeite os mais velhos e o vizinho do lado e, assim, vamos construindo nossa cidadania.

Arigatô!

Originalmente publicado em WEBNEWSSUL.