Uma
das coisas que mais chamou a atenção na primeira fase da Copa foi a
atitude dos torcedores japoneses, que após os jogos de sua seleção
efetuaram a limpeza das arquibancadas, comportamento normal e cotidiano
entre eles, mas que despertou curiosidade entre os brasileiros, num
exemplo que bem poderia ser seguido por aqui. A pergunta não formulada
nos programas de TV é a seguinte: Por que eles fazem isso? – E a
resposta mais objetiva e simples possível é: Porque assim foram
educados.
Lembremos
que o Japão é formado por um conjunto de ilhas, com uma população de
mais de 127 milhões de pessoas aglomeradas em pouco mais de 377 mil Km²
(o Brasil possui pouco mais de 8,5 milhões de Km²), então viver em
harmonia com o próximo é essencial para conseguir manter um determinado
padrão de civilidade (o Japão tem o 10º melhor índice de desenvolvimento
humano), de modo que todos procuram realizar a “sua parte”, cuidando de
seu espaço e dos espaços comuns. Esse nível de conscientização só é
alcançado por um povo que desenvolveu uma forte identidade e um senso
educacional bastante apurado. Se novamente nos lembrarmos que há apenas
69 anos o Japão saiu derrotado da Segunda Grande Guerra (1939-1945), e
que permaneceu ocupado pelos Estados Unidos até 1952, poderemos
quantificar o tamanho da evolução japonesa que hoje ocupa a posição de
3ª maior economia do mundo.
Atribuir
esse crescimento apenas a educação é minimizar o tamanho do esforço
japonês pós-guerra e da ajuda estrangeira (os EUA investiram bastante
por lá na tentativa de evitar o avanço comunista), porém a educação
assumiu um papel de fundamental importância nesse desenvolvimento, pois a
presença de boas escolas técnicas e de nível superior possibilitou a
formação de profissionais qualificados a ajudar o país.
No
Japão a importância da educação é muito antiga, os Samurais já contavam
com cursos específicos e a população em geral freqüentava escolas
mistas onde podiam aprender a escrever, ler e contar; de modo que já por
volta de 1868 cerca de 40% dos japoneses eram alfabetizados. Vale
lembrar que a escola é pública e que professores realizam cursos
obrigatórios anualmente, além de receberem incentivo para se aprimorarem
e serem acompanhamento durante toda a vida docente. Assim é garantida
que a qualidade educacional seja a mesma desde a pré-escola até o nível
superior.
Outro
fator de importância que pode ser sugerido é a importância da leitura
diária, enquanto países mais desenvolvidos possuem média semanal de
leitura de 12 horas, nós brasileiros lemos em média 4 horas por semana. O
Japão possui as maiores tiragens de jornal do mundo e os japoneses lêem
cerca de 12 livros por ano, enquanto no Brasil a média mal chega a 4
livros. Vale lembrar que o hábito de ler ajuda no desenvolvimento do
raciocínio crítico, na habilidade de escrever e falar e principalmente
na melhor compreensão do mundo ao nosso redor.
O
Brasil vem melhorando significativamente seus investimentos em
educação, no entanto, não basta criar programas que facilitem a entrada
dos jovens no ensino superior, é preciso criar estratégias que também
melhorem a leitura desses jovens – O resultado do INAF (Índice Nacional
de Alfabetismo Funcional), promovido pelo Instituto Paulo Montenegro,
mostra que mesmo entre pessoas com nível superior 38 % não podem ser
consideradas plenamente alfabetizadas – que melhorem a nossa educação de
base e transformem a qualificação e desenvolvimento da carreira de
professor, com acompanhamento técnico, planos de careira melhores
condições de trabalho e salários dignos.
Quem
sabe assim na próxima Copa possamos também ser destaque nas notícias
esportivas como exemplo de educação, consciência e civilidade. A boa
notícia é que não precisamos esperar pelas tais políticas públicas,
podemos hoje mesmo começar a mudança: Pegue um livro pra ler; vá à
escola de seus filhos; mantenha as ruas de sua cidade limpas; evite
abusar de som alto; respeite os mais velhos e o vizinho do lado e,
assim, vamos construindo nossa cidadania.
Arigatô!
Originalmente publicado em WEBNEWSSUL.
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