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domingo, julho 13, 2014

Uma lição da Copa

Uma das coisas que mais chamou a atenção na primeira fase da Copa foi a atitude dos torcedores japoneses, que após os jogos de sua seleção efetuaram a limpeza das arquibancadas, comportamento normal e cotidiano entre eles, mas que despertou curiosidade entre os brasileiros, num exemplo que bem poderia ser seguido por aqui. A pergunta não formulada nos programas de TV é a seguinte: Por que eles fazem isso? – E a resposta mais objetiva e simples possível é: Porque assim foram educados.


Lembremos que o Japão é formado por um conjunto de ilhas, com uma população de mais de 127 milhões de pessoas aglomeradas em pouco mais de 377 mil Km² (o Brasil possui pouco mais de 8,5 milhões de Km²), então viver em harmonia com o próximo é essencial para conseguir manter um determinado padrão de civilidade (o Japão tem o 10º melhor índice de desenvolvimento humano), de modo que todos procuram realizar a “sua parte”, cuidando de seu espaço e dos espaços comuns. Esse nível de conscientização só é alcançado por um povo que desenvolveu uma forte identidade e um senso educacional bastante apurado. Se novamente nos lembrarmos que há apenas 69 anos o Japão saiu derrotado da Segunda Grande Guerra (1939-1945), e que permaneceu ocupado pelos Estados Unidos até 1952, poderemos quantificar o tamanho da evolução japonesa que hoje ocupa a posição de 3ª maior economia do mundo.

Atribuir esse crescimento apenas a educação é minimizar o tamanho do esforço japonês pós-guerra e da ajuda estrangeira (os EUA investiram bastante por lá na tentativa de evitar o avanço comunista), porém a educação assumiu um papel de fundamental importância nesse desenvolvimento, pois a presença de boas escolas técnicas e de nível superior possibilitou a formação de profissionais qualificados a ajudar o país.

No Japão a importância da educação é muito antiga, os Samurais já contavam com cursos específicos e a população em geral freqüentava escolas mistas onde podiam aprender a escrever, ler e contar; de modo que já por volta de 1868 cerca de 40% dos japoneses eram alfabetizados. Vale lembrar que a escola é pública e que professores realizam cursos obrigatórios anualmente, além de receberem incentivo para se aprimorarem e serem acompanhamento durante toda a vida docente. Assim é garantida que a qualidade educacional seja a mesma desde a pré-escola até o nível superior.

Outro fator de importância que pode ser sugerido é a importância da leitura diária, enquanto países mais desenvolvidos possuem média semanal de leitura de 12 horas, nós brasileiros lemos em média 4 horas por semana. O Japão possui as maiores tiragens de jornal do mundo e os japoneses lêem cerca de 12 livros por ano, enquanto no Brasil a média mal chega a 4 livros. Vale lembrar que o hábito de ler ajuda no desenvolvimento do raciocínio crítico, na habilidade de escrever e falar e principalmente na melhor compreensão do mundo ao nosso redor.

O Brasil vem melhorando significativamente seus investimentos em educação, no entanto, não basta criar programas que facilitem a entrada dos jovens no ensino superior, é preciso criar estratégias que também melhorem a leitura desses jovens – O resultado do INAF (Índice Nacional de Alfabetismo Funcional), promovido pelo Instituto Paulo Montenegro, mostra que mesmo entre pessoas com nível superior 38 % não podem ser consideradas plenamente alfabetizadas – que melhorem a nossa educação de base e transformem a qualificação e desenvolvimento da carreira de professor, com acompanhamento técnico, planos de careira melhores condições de trabalho e salários dignos.

Quem sabe assim na próxima Copa possamos também ser destaque nas notícias esportivas como exemplo de educação, consciência e civilidade. A boa notícia é que não precisamos esperar pelas tais políticas públicas, podemos hoje mesmo começar a mudança: Pegue um livro pra ler; vá à escola de seus filhos; mantenha as ruas de sua cidade limpas; evite abusar de som alto; respeite os mais velhos e o vizinho do lado e, assim, vamos construindo nossa cidadania.

Arigatô!

Originalmente publicado em WEBNEWSSUL.