A viagem havia começado muito bem, sinal de que logo os problemas apareceriam, e apareceram. O ônibus quebrou a seis quilômetros da cidade e não passava um único carro pela estrada poeirenta; o sol, chegando ao zênite, parecia querer literalmente torrar nossas cabeças, o calor insuportável não nos deixava ficar dentro do veículo. Eu e Cy nos abrigamos sob uma jaqueira e esperamos, chegaríamos atrasados mas chegaríamos. Meia hora depois seguíamos para a cidade em cima de uma carroça: Eu, Cy, Marinha e Júlio.
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Para chegar à fazenda por ali somente através de canoa e tinhámos perdido a carona do Tonho, pudera, estávamos quase cinco horas atrasados; um senhor se aproximou e se ofereceu para nos levar, "tô indo prus lado de lá não, mas tem acerto". Acertamos trinta reais.
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Afundei na lama até acima dos joelhos e, levando as mochilas, atravessei até chegar do outro lado, a distância não era grande mas as meninas ficaram reclamando e voltamos, eu e Júlio, para carregá-las, dessa vez acabei ferindo os pés nos galhos embaixo da lama, mas chegamos ao outro lado.
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Já estávamos na estradinha há meia hora e nada de chegar a lugar algum, um rapaz vinha conduzindo dois cestos de bananas em um burro e nos disse que a fazenda era perto - ségui em frenti e dispôis vira à dereita, é logo ali - e apontou com o lábios o caminho. Duas horas depois ainda nem sinal da fazenda; Vó sempre falou que "logo ali apontado de beiço...hum! se prepare pra andar" e andamos.
Marinha ficou com vontade de mijar e correu pra uma moita baixa - olhem não seus tarados - logo depois de ouvirmos o barulhinho do xxxxxiiiiiiiiii, um berro nos fez voltar os olhos na direção de Marinha, que rolava no chão abanando a penugem rala e avermelhada da xoxota - Uai! Ai! Ai - Que foi? - perguntei - cobra? - Ali, Ali... - apontava Marinha, olhei e vi a folha com que ela havia se enxugado - Ô criatura! você não conhece urtiga não? - rimos a valer da coitada que ficou no chão nos pedindo para jogar água no púbis irritado.
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Chegamos na fazenda no fim da tarde; cansados, sujos e sedentos, doidos por um copo de água gelada, mas lá não havia energia elétrica.
Cy lembrou que na venda de 'Noca' tinha uma geladeira que funcionava à gás e "era logo ali", andamos mais meia hora e chegamos à vendinha entranhada num morrinho, a visão da geladeira à nossa frente nos deu ânimo. Júlio pediu uma cerveja e Marinha, ainda dolorida e envergonhada disse que o acompanharia; eu queria uma Coca-cola. - É gente - disse 'Noca' - só não tão gelada que o gás cabô ônti e só amenhã é qui o caminhão vai trazê...
Como eu disse, a viagem começou muito bem.
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