FERGUSON, Will. Mosca Espanhola. Tradução PARCIONIK, Celso M. São Paulo: Companhia da Letras, 2011
“Nós traficamos com sonhos e falsas esperanças, Jack. E o que poderia ser mais americano do que isso? (...)”
RESENHA:
Estados Unidos, final da
década de trinta. Os americanos sofrem ainda os efeitos da recessão ocorrida
após o crash da bolsa em 1929 e o mundo acompanha as mudanças na Europa que
levarão a 2ª Grande Guerra. É nesse cenário que encontramos Jack, jovem
operário de uma mina de carvão que diferente dos demais conterrâneos possui uma
mente aguçada e é um ávido frequentador da biblioteca local ao tempo em que tenta
cuidar do seu pai desempregado e iludido com sonhos de fortuna fácil. A
história começa com um aparente romance entre Jack e a filha da bibliotecária,
mas essa é apenas a roda do destino que o leva a conhecer Rose e Virgil, um
casal de vigarista que um belo dia chega a cidade e começa a aplicar golpes em
todo o comércio conseguindo tirar dinheiro de modo fácil e consistente das
pessoas; curioso, Jack segue o casal sem o denunciar no entanto, apenas
observando a destreza com que ambos agem. Ao fim do dia, Virgil tendo percebido
a presença do rapaz a vigiá-lo decide dar uma parte do que dinheiro e surpreendentemente
o convida a partir com eles. Decidido a descobrir a mecânica daquela vida e a
mudar a sua própria, Jack simplesmente parte com eles, abandonando tudo para se
aventurar numa jornada de aprendizado que o levará de costa a costa de um país
quebrado e em reconstrução, dando golpes numa escala cada vez maior e com mais
sofisticação. Rose é uma femme fatale
que encanta com seus olhares lânguidos e a capacidade de se mostrar frágil ou
sensual, enquanto Virgil é um excêntrico golpista de passado misterioso e
comportamento errático que sonha com um grande truque capaz de imortalizá-lo.
Juntos formam um casal apaixonado e dependente um do outro, com um gosto voraz
pelos prazeres da vida e do jazz. Ambos levarão Jack e o leitor pelas estradas
de uma nação angustiada e que anseia deixar para trás a maior crise econômica
de sua história, com seus habitantes sedentos por obter qualquer tipo de lucro
e justamente por isso presas fáceis nas mãos desses hábeis trapaceiros. Nem
tudo, no entanto são flores e o trio terá que se deparar com uma ameaça desconhecida
e talvez fatal que ameaça tudo aquilo que eles conseguiram. Afinal “traficar
com sonhos e esperanças” pode ser um jogo extremamente perigoso.
Eu não conhecia o Will
Ferguson e o livro me caiu em mãos meio por acaso, mas o cara escreve muito
bem, embora o início do livro pareça um pouco arrastado monótono (assim como a
pequena cidade onde vive Jack), mas aos poucos vai tomando fôlego e ritmo a
partir da segunda parte. O autor consegue recriar uma atmosfera de época bem
interessante com belas e trágicas descrições nem tanto de cenários, mas dos
ambientes em que acontece a história, criando um clima que proporciona uma boa
imersão na leitura, em alguns momentos parece até que dá pra ouvir a musica tocando
nos salões de baile. Os golpes descritos na aventura são todos reais, assim
como alguns golpistas que aparecem no texto e os diálogos soam naturais e
condizentes com as situações. A edição da Cia da Letras peca pouco em termos de
revisão, mas comete um grave pecado ao não incluir a capa original do livro, a
qual é referenciada com certa importância nas notas do autor ao fim do livro.
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