(Kiko Moreira)
Talvez a pior praga que surgiu na sociedade nos últimos anos tenha sido o famigerado Crack, droga que se disseminou de forma rápida e mortal pelas cidades de nosso País; alastrando-se não só nas grandes metrópoles, mas invadindo cada vez mais a pequenas cidades e suas zonas rurais; pessoas que antes nunca havia tido contato com algo mais forte que uma dose de cachaça, hoje misturam álcool, maconha e crack numa combinação fatal, noticiada diariamente nos jornais, que mostram a degradação humana que ocorre após o início do vício e resulta em furtos, violentos roubos e frequente homicídios; sem falar do desespero das famílias que, não sabendo como agir, tomam atitudes extremas como acorrentar filhos a cama para que não saiam em busca da droga, ou simplesmente desistem e os entregam à própria sorte nas ruas.
Infelizmente os governos não possuem uma política muito clara e intensiva que cuide da situação desses jovens: não se veem campanhas maciças na mídia, que eduquem e previnam contra os males do uso de tais substâncias (a última de que me lembro foi de dezembro de 2009 a fevereiro de 2010 e pouco expressiva em minha opinião), até mesmo as estatísticas disponíveis nos sites governamentais está desatualizada (dados de 06 anos atrás); não existem centros públicos de recuperação e tratamento eficientes – quando perguntados, em geral os governantes citam os CAPS (Centros de atendimento psicossocial) que são apenas locais de acompanhamento e reinserção social de pessoas com transtornos mentais. Embora existam os CAPS AD (de álcool e drogas), estes voltados a “atenção integral a transtornos decorrentes do uso abusivo e dependência de álcool e outras drogas”, não estão disponibilizados a municípios com menos de 70.000 pessoas. Mas nosso foco nesse artigo é outro: A responsabilidade dos pais.
Através de palestras e outros contatos com diversos jovens, tenho constatado em muitos deles a necessidade de sentir a presença dos pais não apenas como provedores da casa, mas efetivamente realizando o seu papel de pai/mãe. O conceito de família mudou nas últimas décadas, a ideia de aproximação com os filhos deixou de ser vista como uma relação de autoridade suprema dos pais, para uma relação de amizade e igualdade, os pais deixaram de serem “donos” de seus filhos para se tornarem “protetores e tutores”, orientados a não mais se imporem, mas negociarem aquilo que deveria ser o comportamento e aprendizado dos filhos; paralelo a esse conceito, o maior acesso a itens de consumo e a quebra paulatina de tabus de comportamento levou a nossa sociedade a uma busca ilimitada de prazer imediato, tornando até mesmo a relação entre as pessoas uma coisa descartável e impessoal, frases como “fiz uma amizade hoje, briguei, busco outra num site de relacionamento e tudo bem” ou “fiquei com um rapaz numa festa, beijei muito, não sei o nome dele e amanhã fico com outro ou até outros”, passaram a ser ouvidas com uma frequência assustadora. Claro que esse tipo de relação entre pessoas acaba influenciando a relação dentro da família, que termina por espelhar o comportamento social.
Se antes os pais controlavam seus filhos com mão de ferro e geralmente um cinturão de couro, passaram a negociação e chegaram a inevitável cumplicidade de quem precisa trocar alguma coisa, o que era obrigação, passou a ser mercadoria: “você estuda e eu lhe compro um celular novo”, “eu não incomodo o seu descanso e você me deixa ir a qualquer festa de fim de semana” ou pior “você não me pergunta com quem ando e eu não lhe preocupo dizendo que estou andando com viciados em crack”. Disciplinar os filhos passou a ser vista como algo repressivo ou pior, um incômodo a ser evitado. Mas será que os filhos não querem mesmo ser disciplinados? – Creio que não é bem assim, frequentemente tenho ouvido jovens queixando-se de falta de maior controle pelos seus pais, de falta de regras que lhes digam como se comportar; sentem muitas vezes que seus pais simplesmente “Não se importam”, que não se preocupam com que os filhos fazem no dia-a-dia. Disciplina não significa repressão e nem afasta os filhos de seus pais, ao contrário, pode aproximá-los ainda mais, pois o filho saberá que tem alguém preocupado com ele, que lhe dá limites, que o ama, que o aconselha e educa. Disciplinar é um ato de amor que vai preparar o seu filho para enfrentar as dificuldades e as negações impostas pela vida. Respeito nada tem a ver com permissividade, mas tem muito a ver com regras bem definidas e coerentes, é preciso que o filho saiba o que pode fazer e mais ainda aquilo que não pode, mas é preciso também que ele saiba o porquê, isso cria aproximação e dá as ferramentas que o ajudarão a enfrentar esse mundo cada dia mais confuso. Disciplina, amor e muito diálogo, está aí uma fórmula que dificilmente dará errado na luta contra o crack e outros perigos.