(Por Kiko Moreira)
Observando as notícias sobre os recentes ataques à sede da ROTA em São Paulo, não pude deixar de relacionar àqueles ocorridos em maio de 2006, que por mais de uma semana aterrorizaram a maior cidade do país, comandados por uma facção criminosa, o PCC, que decretou fosse "tocado o terror": quartéis, postos policiais e delegacias foram atacados, policiais foram mortos, carros incendiados, população escondida, caos instalado.
Observando as notícias sobre os recentes ataques à sede da ROTA em São Paulo, não pude deixar de relacionar àqueles ocorridos em maio de 2006, que por mais de uma semana aterrorizaram a maior cidade do país, comandados por uma facção criminosa, o PCC, que decretou fosse "tocado o terror": quartéis, postos policiais e delegacias foram atacados, policiais foram mortos, carros incendiados, população escondida, caos instalado.
Os ataques supostamente ocorreram porque, na tentativa de sufocar uma série de rebeliões programadas, foram transferidos cerca de 750 criminosos para presídios de segurança máxima. Numa demonstração de força ainda não vista no País, os criminosos abriram mão de lucros e da comodidade delinguencial para mostrar a população e ao Estado quem realmente tinha o poder naquele momento, forçando este mesmo Estado a negociar (fato negado até hoje) para que os ataques acabassem e a normalidade voltasse as ruas de São Paulo.
O episódio rendeu o filme "SALVE GERAL" de Sérgio Rezende, que poderia ter sido um retrato fiel e documental dos fatos, mas que como tantos outros na história recente do País, preferiu a via da romantização e da humanização dos personagens, tranformados em anti-heróis que conseguem arrancar a compaixão do público e faz desaparecer o fato de que são bandidos frios, calculistas e cruéis.
O diretor preferiu usar os ataques como pano de fundo para contar a história melosa de um jovem "acidentalmente" jogado no mundo do crime. Ele após participar de um racha, simplesmente mata outro jovem com uma extrema frieza, o que é mostrado de forma tão banal e apática, que sequer percebemos a gravidade do crime, ficamos é com pena do assassino... A partir daí o rapaz, preso, se envolve com uma série de situações "acidentais", enquanto sua mãe passa de professora de piano, por amante de bandido, até avião do grupo criminoso.
O grupo criminoso, aliás, não parece formado por bandidos perigosos e cruéis (esse papel ficou para a polícia, mostrada como incompetente, burra e corrupta) mas sim como uma bando de intelectuais injustiçados pela sociedade e comandados por alguém com o singelo título de "professor". Uma oportunidade perdida para mostrar a cruel realidade de nosso sistema de segurança e suas inúmeras deficiências.
Esses dias chega outro filme sobre um outro famoso grupo criminoso, é 400 CONTRA 1, filme de estréia de Caco Souza, que procura contar sobre a formação do Comando Vermelho desde seus primórdios na prisão de ilha vermelha, quando presos políticos foram colocados juntos a bandidos comuns resultando na base que deu inicío a facção.
Novamente o filme parece retratar a vida de crimes dos personagens como um ideal de banditismo romântico e cheio de aventuras, motivado por um sistema injusto que obrigou cada um dos protagonistas a ingressar na delinguência por culpa única e exclusiva do Estado e da sociedade. O título, por sinal faz alusão a um suposto cerco de 400 policiais armados até os dentes na tentativa de captura de um único e quase indefeso marginal. Claro, irei assistir ao filme com a mente o mais aberta possível e possívelmente sairei de lá achando que eu sou o culpado por esses pobres coitados que querem apenas uma vida aventureira e abastada, mas que por falta de oportunidade são obrigados a tomar dos outros (a força, de forma cruel e insidiosa) para satisfazerem suas necessidades. Nós pobres coitados que temos os mesmos sonhos, mas que preferimos lutar diariamente com o suor do rosto para conseguir, ao menos, realizar parte do sonho, não seremos objetos de filmes contando nossa história, afinal somos os bobos da corte.
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