Kiko Moreira
A crueldade, a inclemência e a inutilidade da guerra precisam ser avivadas vez ou outra em nossa memória, principalmente em tempos nos quais parecemos nos importar tão pouco como nosso semelhante e onde os sentimentos de unidade, de compaixão, de espanto diante da violência parecem ter endurecido em nossos corações. Não a toa nos divertimos em espalhar fotos de acidentes sangrentos, reproduzir notícias falsas sem preocupação com conseqüências ou mesmo aceitar ilegalidades como meros comportamentos sociais.
A guerra não é e nunca foi algo bom, heróico ou grandioso; ao contrário, é sempre um pesadelo sujo, fétido e humilhante para aqueles que as lutam. Talvez os que engrandeçam o ato de guerrear sejam justamente o que ficam encastelados no conforto de seus gabinetes traçando planos e fornecendo carne humana para ser triturada em batalhas nas quais sequer se tem clareza sobre os objetivos de se estar ali.
O filme Nada de novo no front (Im Westen nichts Neues, 2022), produção alemã dirigida por Edward Berger e baseada no romance de mesmo nome do escritor Erich Maria Remarque, lançado em 1929 é uma releitura interessante, crua e necessária da obra, que já havia sido adaptada outras duas vezes para o cinema (1930) e TV (1979). Curioso é que na época em que Hitler estava no poder proibiu a exibição do filme de 30 e mandou queimar o romance pelo seu teor pacifista e classificado como derrotista pelo Führer.
Logo no início do filme chama atenção a cena em que soldados retiram os fardamentos dos mortos e o enviam para serem lavados e costurados, para então serem entregues a outros soldados que novamente sendo mortos servirão seus uniformes a outros alimentando o ciclo famélico de sangue da guerra. As cenas de batalha são sensacionais e transmitem todo o medo, confusão e angústia de estar ali, não há tempo para pensar, refletir ou mesmo lutar, a única coisa é correr, atirar e dar sorte de não ser morto. Não há objetivo na guerra e isso fica mais do que evidente nas trincheiras enlameadas, cheias de ratos, sem comida ou esperança, fazendo com que uma travessura para roubar um ganso se torne uma faísca tênue de esperança e alegria.
-Im Westen nichts Neues- (Alemanha, 2022)
Direção: Edward Berger
2 hr 28 min (148 min)
disponível na Netflix